Resumen
A apropriação dos recursos naturais pela hidrelétrica de Xingó gerou impactos na produção de pescado e de arroz, bem como ocasionou mudanças na foz do rio São Francisco, o que levou à inundação e à extinção do Povoado Cabeço, em Brejo Grande/SE. O presente artigo objetiva analisar a percepção ambiental, a identidade e o pertencimento dos moradores deste povoado e para tanto fez uso de entrevistas semiestruturadas. Constata que, além dos aspectos físicos, degradou-se um modo de vida e essas mudanças fazem perceber a ligação simbiótica que mantêm o homem e o meio ambiente, especialmente com o rio. Essa ligação se dá a partir da compreensão de sua existência e da relação de dependência com o meio ambiente, que é intrínseca ao seu modo de produção, em função da mesma base material. Neste artigo, se deu ênfase às perdas das referências culturais e simbólicas, bem como às perdas das redes de parentesco estabelecidas naquele espaço, identificando-as no contexto das falas dos moradores, de modo que ensaiou-se uma reflexão sobre as estratégias por eles criadas para dar conta da desordem instaurada em seu mundo pessoal e social, esta causada pelo impacto das mudanças ambientais que os atingiram. Dessa forma, esses moradores se recolhem às memórias do passado, seja na perspectiva individual ou na perspectiva de uma memória coletiva, presas exaustivamente ao ontem de suas vidas pela ausência de escolhas ou de poder decidir sobre seus destinos.